quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Como escolher um azeite (parte 2)


Temos constatado nos locais de venda de azeites, principalmente supermercados, uma oferta crescente de marcas, variedades e tipos de embalagens, fenômeno parecido com o que ocorreu com os vinhos há alguns anos atrás, e que acarreta uma grande dificuldade ao consumidor em saber quais aspectos deve observar no momento de compra de um azeite de qualidade. 

O preço do produto é um dos indicadores de qualidade, que exceto nos momentos em que o produto está em “promoção”, geralmente azeites com preços muito baixo comparativamente as demais marcas, podem indicar um produto de qualidade inferior.

A análise cuidadosa das embalagens fornece informações importantes sobre a qualidade do produto, que apesar de não serem conclusivas, pois somente degustando o azeite podemos conhecer as características de sabor e aroma, auxiliam a identificar parâmetros indicativos de qualidade do azeite.

Comecemos pelo tipo de embalagem, garrafas de vidro ou latas, que além de ter uma apresentação atrativa e informativa para o consumidor, tem como principal função a correta preservação das qualidades e características do produto. Os principais “inimigos” do azeite são a luz, temperatura, umidade e o oxigênio, que provocam alterações de sabor e aroma no azeite. 

A embalagem que oferece melhor proteção a estes quatro fatores é a garrafa de vidro escura, seguida da lata e da garrafa de vidro transparente. A vantagem do vidro escuro sobre a lata é devido ao fato do vidro ser um isolante térmico (“barreira ao calor”) melhor que o metal da lata, além da eficiente proteção contra luz, oxigênio e umidade. A lata, após aberta para uso, também apresenta maior risco de sofrer a ação do oxigênio e da umidade, em função de que nem todas as apresentações de embalagem de lata apresentam sistema adequado de fechamento.

O passo seguinte é analisar as informações de rotulagem, dispostos tanto na parte frontal como no verso da embalagem. Na parte frontal, podemos encontrar as seguintes informações relevantes:


Marca  

Marcas de produtores de tradição e de boa reputação no mercado são sinalizadores de confiabilidade de que o produto foi elaborado dentro de normas e procedimentos adequados;

Acidez / tipos de azeite

Apesar de a acidez ser um fator importante na classificação do azeite, ele não é adequado para sinalizar se é um produto mais gostoso em termos de sabor, aroma e intensidade. A acidez indica se o produto é “azeite extra virgem” (até 0,8%), considerado o tipo mais “nobre”, pois a sua extração foi feita apenas por processos mecânicos. Entretanto, não obrigatoriamente azeites extra virgem de acidez menor, por exemplo, 0,2% de acidez, são melhores que produtos com acidez maior, por exemplo, 0,7%.

O produto classificado como “azeite de oliva”, nem sempre menciona a acidez, pois é pouco relevante para este tipo de produto, pois eles são obtidos inicialmente por processos mecânicos, nos quais não atingiram a acidez para se classificarem como “extra virgem”, e foram submetidos a processos químicos para redução da mesma, sendo posteriormente acrescidos de uma pequena fração de “extra virgem” em sua composição (veja maiores detalhes na “PARTE 3”);

Tipo de processo de extração

Algumas marcas “extra virgem” informam que o processo de extração foi de “primeira prensagem a frio”. Como atualmente todos os azeites são obtidos apenas com uma única “prensagem”, ou “extração, esta informação tem pouca utilidade de diferenciação.

Entretanto a segunda informação, “a frio”, é relevante, pois indica que não houve aquecimento no processo de extração do azeite, o que pode indicar que as qualidades de aroma e sabor estão melhores preservadas. Algumas empresas utilizam aquecimento no momento de extração, mas esta informação dificilmente está informada no rótulo.  

Variedade de azeitonas

Ainda não é muito usual, mas algumas marcas mencionam o tipo de variedade de azeitona utilizada. Esta informação tende a facilitar uma melhor caracterização do sabor e aroma do produto (veja maiores detalhes na “PARTE 4”);

País de origem

Países de origem com tradição na produção de azeite é outro importante fator indicativo de qualidade. Aproximadamente 90% do azeite consumido no Brasil são provenientes de Portugal, Espanha e Argentina, sendo que azeites oriundos de países como Itália, Grécia, e mais recentemente do Chile, também já tem boa aceitação (veja maiores detalhes na “PARTE 4”);

 Selos de certificação

Alguns produtores da União Européia possuem selos de certificação, como D.O.P. (Denominação de Origem Protegida) ou I.G.P. (Identificação Geográfica Protegida), que garantem que o azeite foi produzido a partir de normas e padrões controlados, sendo um indicativo de qualidade. Marcas de outros países fora desta região podem apresentar selos de certificações de órgãos ou entidades idôneas, que normatizam e fiscalizam a qualidade do azeite em seus respectivos países (veja maiores detalhes na “PARTE 4”); 

Na parte traseira da embalagem, podemos encontrar as seguintes informações relevantes:

  
Data de fabricação e/ou validade

Diferentemente do vinho, em que alguns tipos podem desenvolver e melhorar os seus atributos sensoriais ao longo do tempo de armazenagem, nos azeites, as características e intensidades de sabor e aroma se mantém melhor preservadas e são mais percebidas quando o azeite é “novo”, ou seja, quando consumido em data mais próxima de sua fabricação. O prazo de validade do azeite varia entre doze meses a três anos de sua data de fabricação, dependendo da marca/empresa do fabricante. Alguns fabricantes informam apenas a validade sem mencionar a data de produção;

Tipo de envase

Nem sempre o azeite cuja marca é originária de um determinado país, assegura que o azeite foi produzido naquele país. Na Itália, por exemplo, que consome e exporta mais do que produz, há diversas empresas que importam azeites de outros países e envasam com marcas italianas, obtendo produtos de boa qualidade, mas não necessariamente azeites obtidos de azeitonas produzidas na Itália.

O mesmo pode ocorrer com outros países.  Nestes casos, normalmente se encontra no rótulo dizeres como “Embalado na Itália” ou “Envasado em Portugal”, mas não informam onde o azeite foi produzido.

 As marcas que são produzidas e envasadas em um determinado país utilizam dizeres como, por exemplo, “Produto Espanhol”, ou “Este produto cumpre com as especificações do país de origem”, “Produzido e embalado em Portugal”, ou “Denominação de Origem Protegida (D.O.P.)”, o que assegura que aquele azeite é de origem conhecida (país e/ou região).

Azeite produzido e envasado (ou engarrafado) por um produtor, no país de origem da marca são um indicativo, apesar de não ser uma certeza, de que o azeite pode apresentar uma melhor qualidade.



Bom, amanhã encerramos o nosso especial sobre azeites. Se você ficou com água na boca, então confira a última parte, sobre como harmonizar o azeite com os pratos!


Abraços e até mais!



Paulo Freitas

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